quarta-feira, 25 de julho de 2007

Êxodo Artístico - Realengo vê seus talentos artísticos irem para outros locais. Por quê?


Carlos Maia

O Brasil possui muitas carências nas áreas da saúde, educação, transporte, moradia entre tantas outras. Por conta disso a arte é vista por vários políticos, empresários e até parte da população como artigo de luxo, supérfluo ou “coisa de quem não tem oi que fazer”, quando na verdade é um direito básico de todo cidadão. A situação se agrava fora do eixo Rio – São Paulo, pois é muito mais difícil conseguir recursos para o setor artístico. Internamente, o Rio de janeiro reproduz o mesmo quadro do resto do país – a concentração de recursos: os refletores estão voltados para o centro e a Zona Sul da cidade. Essa situação leva muitos artistas da região a procurar trabalho longe do seu bairro. O jornal Nossa Gente ouviu cinco artistas do bairro de Realengo para saber o que pensam aqueles que são diretamente afetados por essa desigualdade.
Miriam Bonati, 23 anos, faz parte do Boi Daqui, grupo de danças folclóricas, localizado no centro do Rio. Para ela existem poucos espaços onde o artista pode desenvolver seu trabalho. Isso fez com que ela migrasse para o centro da cidade. Ela diz que espaços que poderiam dar uma oportunidade, como as lonas culturais, não suprem as demandas. Vicente de Paula, diretor administrativo da Lona Cultural Gilberto Gil em Realengo, diz que faz o que o espaço dá condições de fazer, pois a Prefeitura da uma verba pequena. Ele afirma que quem tiver um bom projeto pode levar a lona, mas o espaço não tem como arcar com as despesas. “Aqui tem vários projetos aprovados, mas faltam patrocinadores, conta. Vicente que também é cenógrafo e presidente da ala Agito da Mocidade Independente de Padre Miguel falou que as oficinas de arte da lona atingem a mais de 800 pessoas, a comunidade é que cuida do local, mas as vezes as pessoas não percebem.

A atriz Vanessa Soares, 24 anos, participa a cinco anos de um grupo teatral em Bangu e seu grupo também sofre por falta de apoio. Por conta disso seu grupo nunca se apresentou na Zona Oeste. Seu trabalho é totalmente ligado a cultura popular. Para ela falta articulação entre os artistas da área, devido em parte ao fato de a maioria também ter outra profissão, o que diminui o tempo de cada um. A necessidade de trabalhar levou Amanda Mattos, 19 anos, a deixar os palcos. Ela estudou teatro na Spctaculu, ong do cenógrafo Gringo Cardia e da atriz Marisa Orth. “O teatro me dava muita felicidade, mas precisava ganhar dinheiro para ajudar a família”. Agora ela é secretária de uma firma imobiliária. “Meu maior medo é nunca mais pisar no palco, acho que morro”. O jornalista Bruno Morais, 26 anos também precisou dar um tempo com o ofício de ator devido ao trabalho. Ainda na adolescência ele manifestou o desejo se tornar um ator profissional. Depois de se inscrever num curso de férias em Padre Miguel, que não aconteceu por não formar turma, foi estudar no centro e Zona Sul.
Apesar das dificuldades eles não desistem de seus sonhos. Miriam afirma que quem gosta de arte deve aprender lá e trazer, na medida do possível, para o bairro. Ela quer através da educação usar a arte como instrumento de valorização do povo de Realengo. Vanessa Soares tem a esperança de vencer e se realizar na arte. Pra Bruno Morais, as barreiras não podem atrapalhar os sonhos: “Na busca pela realização de um sonho, a distancia é o menor empecilho que pode haver”, afirma.

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